O fim da TV a cabo e a ascensão do streaming

Há menos de uma década, a TV a cabo dominava o mercado brasileiro quando o assunto era uma alternativa à limitada programação da TV aberta. No entanto, ao longo dos últimos anos, seguindo uma tendência mundial, os brasileiros começaram a substituir a TV por assinatura por um concorrente de peso: o streaming.

Existente no Brasil desde 2011, com a Netflix, o segmento de streaming só fez crescer desde então, atraindo assinantes através da promessa de conteúdo sob demanda, em qualquer hora e lugar — o que a TV a cabo, embora tenha se reinventado, não oferece.

Hoje, vamos entender melhor como se deu a “troca” da TV a cabo pelo streaming, por que isso acontece e como o streaming não apenas é mais vantajoso, como também de que forma vem interferindo na cultura de consumo do público. Vamos lá!

A ascensão do streaming

Apresentando-se como “locadora virtual” na época, a Netflix iniciou a história do streaming de filmes e séries no Brasil em 2011, com um catálogo tímido e sem produções originais.

Com o passar dos anos, cresceu o catálogo e a base de clientes; com a chegada de produções originais (portanto, exclusivas) de peso, como House of Cards e Orange is the New Black, em 2013, o serviço começou a escalar rapidamente em número de assinantes, atraindo atenção para o setor.

A Netflix sempre se destacou por buscar parcerias e diversidade nos conteúdos para ganhar mercado: da parceria com a Marvel até estrelar produções de diferentes países (inclusive o original 3%, do Brasil, de bastante sucesso), o serviço quase sempre ocupou a vanguarda do streaming em todo o mundo.

Em 2015, veio ao ar o primeiro serviço de streaming brasileiro: o Globoplay, do Grupo Globo. Inicialmente tímido e com uma usabilidade ruim, cresceu com os anos, agregando produções históricas e inéditas da Globo somadas a conteúdo de terceiros e chegando ao topo do mercado em número de assinantes (mais de 20 milhões!).

Um bom exemplo da ascensão do Globoplay ocorreu em 2018, quando estreou a aclamada série estrangeira The Good Doctor de forma exclusiva. The Handmaid’s Tale, outra série de grande sucesso no exterior, também foi exibida pelo Globoplay.

A chegada de serviços como Amazon Prime Video (2016), HBO Max (2020, como releitura do antigo serviço HBO GO), Apple TV+ (2019) e o aguardado Disney+ (2020) trouxeram concorrência ao setor, que, apesar da forte disputa por títulos exclusivos e assinantes, só faz crescer.

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A queda da TV a cabo

Em paralelo à ascensão do streaming, ocorreu a queda da TV por assinatura em todo o mundo, inclusive no Brasil. Os dados são claros: de 2019 para cá, a quantidade de assinantes de TV a cabo caiu 24% no país, e, em quem ainda usa o serviço, 24% pediram redução de pacote em 2021.

Essa redução tem relação direta com a popularização do streaming: enquanto que, para usar o streaming, só é necessária uma boa conexão de Internet e uma mensalidade que pode ficar abaixo de R$ 20 em alguns pacotes, a TV a cabo é normalmente bem mais cara, exige instalação e não dá ao usuário a mesma liberdade de como assistir.

A TV por assinatura tem se reinventado e já é comum o recurso que permite gravar programas para assistir depois. No entanto, esse tipo de ferramenta passa longe de atingir a interatividade do streaming, no qual o usuário escolhe não apenas o que e quando assistir, mas também onde, podendo usar diferentes dispositivos e compartilhar sua conta com outras pessoas.

Até mesmo a transmissão ao vivo, que era o trunfo restante da TV a cabo, está sendo “invadida” pelos serviços de streaming. Canais esportivos já exploram a transmissão ao vivo pela internet, como o DAZN, serviço lançado em 2019 que transmite vários eventos esportivos ao vivo via streaming, inclusive simultaneamente.

O fenômeno atingiu canais historicamente ligados à TV a cabo, como o Telecine (que tem seu streaming próprio há alguns anos) e Premiere Futebol Clube, pay-per-view futebolístico que já pode ser assistido pela Internet.

Mudança na cultura

A “troca” da TV a cabo pelo streaming mostra uma mudança na cultura de consumo de audiovisual em todo o globo. A TV está deixando de ser o grande marco da cultura de massa para dar lugar a uma perspectiva mais ampla, na qual o consumidor personaliza sua experiência em meio a uma gama infinitamente maior de opções do que e como assistir.

Enquanto que, antes, a TV (tanto aberta quanto por assinatura) pautava o consumo de filmes, séries e outros conteúdos através de grades de programação e datas de lançamentos, reprises etc, agora o consumidor decide que conteúdos deseja, quantos e quais serviços assinar separadamente, em que dispositivo assistir e assim por diante.

Talvez essa mudança prejudique a cultura de massa, já que não apenas cada usuário vai ter acesso a um conteúdo diferente conforme o serviço que assina, como, mesmo entre assinantes de uma mesma plataforma, a maneira que os conteúdos aparecem na tela e são sugeridos é completamente diferente.

De toda forma, essa nova tendência é real e vai moldar de alguma forma — que ainda não sabemos completamente — todo o mercado de audiovisual no futuro, como já vem demonstrando claramente. O que vem por aí nos próximos capítulos? Teremos de esperar para ver!

Fontes: BolaVIP, ABJ, Zero Hora, Techtudo